Em 2020, o índice de felicidade do brasileiro, medido pela pesquisa da FGV Social, atingiu o menor patamar em 15 anos, chegando a 6,1, numa escala de 0 a 10. “Nunca estivemos tão tristes, é verdade, mas é perfeitamente compreensível que, em momentos de crise, a percepção da felicidade esteja mais distante. O luto coletivo, isolamento, desemprego, medo da morte e todas as incertezas provocadas pela pandemia alteraram não só a saúde mental do brasileiro, mas também a alegria de viver”, comenta o psicólogo especialista em Crises e Emergências, Alexandre Garrett.
Uma pesquisa internacional, conduzida no Brasil pela Fiocruz, mostrou que 40% dos entrevistados brasileiros disseram ter se sentido aborrecido, preocupado, nervoso, ansioso ou tenso por vários dias. “Nessa situação, é difícil enxergar boas perspectivas para o futuro. É como se a vida estivesse suspensa, e, para muitos, a sensação é a de que estamos definhando à espera de dias melhores”, afirma o psicólogo.
Segundo o especialista, o avanço da vacinação, que já começa a provocar, ainda que de forma tímida, uma redução nas mortes por covid, e a paulatina retomada das atividades presenciais devem devolver a alegria de viver para os brasileiros. “Quando se está no meio de uma crise, cercado por notícias desalentadoras, é difícil se manter positivo e otimista. Mas basta olhar para as redes sociais, repletas de fotografias de vacinação e de reações efusivas, para perceber o impacto que esse fato terá sobre a disposição emocional das pessoas”, afirma.
Vacinados, os brasileiros se preparam para, aos poucos, retomar parte das atividades que mantinham antes da pandemia. “Para quem está cumprindo o isolamento de forma rigorosa, essa volta será gradativa, algumas pessoas podem sentir um certo desconforto em sentar a uma mesa para fazer uma refeição fora de casa, por exemplo, mas é certo que a adaptação à nova ‘velha’ rotina é muito mais fácil que se ajustar a uma vida cheia de privações”, diz.
A normalidade de andar pela rua sem máscara ainda está distante, mas imagens ao redor do mundo mostram que isso já está acontecendo em países onde parcela maior da população está imunizada. “Saber que após a vacinação será possível ter contato seguro com parentes e amigos que já foram imunizados é um fator fundamental para reencontrar a felicidade”, completa o psicólogo.
Renda e dignidade
Para quem perdeu trabalho e renda, a esperança trazida pela vacina também terá efeitos sobre o índice de felicidade medido pela FGV. A pesquisa mostrou que essa ‘perda’ de felicidade foi maior entre os mais pobres. Enquanto na média a queda foi de 0,4 ponto percentual, o índice dobrou entre os 40% mais pobres. “Os dados dessa pesquisa mostram o quanto as desigualdades impactaram a vida dos brasileiros durante a pandemia e revelam a necessidade de promover a justiça social no nosso país”, completa o psicólogo.