Durante muitos anos, imaginou-se que apenas os serviços como internet, telefonia móvel e TV a cabo poderiam ser contratados por meio de assinaturas mensais. E que bens duráveis, como carros e telefones celulares, só poderiam ser comprados por meio de um bom investimento ou financiamento. Mas uma modalidade nova vem ganhando cada vez mais adeptos: a desmaterialização de bens de consumo.
Você provavelmente já ouviu falar de serviços de locação de carros para motoristas de aplicativos. A modalidade chegou até os consumidores comuns e garante menos trabalho com a manutenção. O mesmo acontece com celulares, que já são fornecidos por meio de ‘aluguel’ com uma opção de compra no final do contrato. Mas será que realmente vale mais a pena alugar um carro ou um celular ao invés de comprá-lo?
O gestor de riscos e especialista em planejamento financeiro Yuri Utida esclarece que essa tendência é bem vantajosa e rentável. “É uma forma das pessoas terem aquilo que desejam sem gastar demais e sem imobilizar suas economias. É bom tanto para quem não tem dinheiro guardado, quanto para quem tem”, afirma.
Para as pessoas que não possuem reservas finaneiras, Utida pontua que o aluguel é uma forma de utilizar determinado bem sem esperar até poupar o valor completo dele ou sem ter que pagar altas parcelas de financiamento, que no final correspondem ao pagamento de até três vezes o valor do bem. “Ao alugar determinado produto você vai pagar um valor que condiz com aquilo que tem disponível para gastar e sairá mais barato do que financiar, pois estará pagando somente pelo uso e não pela posse”, explica. “Chegando ao fim do contrato com a empresa, ela poderá te vender por um valor mais baixo – afinal ele já estará usado e depreciado – ou então reassumir a posse dele”, completa.
Para aqueles que possuem reservas, a assinatura também é mais vantajosa pois permite aplicar o dinheiro guardado em opções lucrativas e, ao mesmo tempo, ter a acesso ao bem com o padrão e a qualidade que quiser, pelo tempo que lhe for interessante. “Ao invés de gastar R$ 240 mil de uma vez para comprar um carro, a pessoa pode aplicar esse valor, fazendo ele gerar mais renda, e pagar uma mensalidade de R$ 4 a 5 mil por mês, dependendo do modelo do veículo. No final, ela terá acesso ao carro, verá sua economia crescer e não perderá dinheiro com a desvalorização que todos os carros sofrem com o tempo”, completa.
Nas locações de carros, as despesas com o IPVA, licenciamento, seguro, manutenção e revisão estão embutidos no valor da assinatura. O valor é mais baixo para o consumidor já queas empresas negociam estes serviços em varejo, conseguindo descontos que são repassados nas assinaturas dos clientes. “Se você optar por comprar um carro, seu dinheiro vai acabar se perdendo, pois com o tempo ele diminuirá o valor no mercado devido ao uso e à depreciação. Ainda terá que gastar cerca de 20 ou 30% do seu valor ao ano para as despesas. No caso do carro de R$ 240 mil, seria algo em torno de R$ 48 a 72 mil anuais”, exemplifica.
Segundo o especialista, a tendência é que haja cada vez mais empresas oferecendo este tipo de serviço. “Com essas opções, as empresas conseguem ampliar seu público, atingindo os clientes que não teriam condições de comprar o produto, além de não deixarem o seu estoque parado. Todo mundo lucra”, observa.
Utida diz que a chamada desmaterialização é uma tendência mundial e passou a ser mais conhecida depois do crescimento dos serviços como a Uber e o Airbnb, em que você aluga um veículo ou um imóvel somente para o momento que for necessário. “Não é mais preciso ter a propriedade para poder utilizar as vantagens dela. O ponto principal é que o consumidor, independentemente de quanto dinheiro tiver guardado, não terá que se desfazer de um alto valor ou arriscar entrar em financiamentos para se beneficiar de um bem pelo tempo que lhe for necessário, sem as despesas que eles trazem e sem a preocupação de ter que se desfazer do produto quando não for mais conveniente”, conclui.