Por Alysson Coimbra*
A pandemia do novo coronavírus evidenciou o impacto da insegurança viária no sistema de saúde do Brasil. Durante os períodos de maior isolamento social, o número de acidentes de trânsito caiu drasticamente, liberando maior número de leitos para atender às vítimas da Covid-19, evitando mais mortes e o caos nos hospitais. Em Minas Gerais, isso foi determinante para evitar o colapso do Sistema Único de Saúde (SUS).
Mostrou também o impacto do trânsito no meio ambiente e evidenciou a necessidade de adotarmos modais mais sustentáveis. O que se espera, ao fim da pandemia, tanto da sociedade quanto dos agentes responsáveis pelo desenvolvimento de políticas públicas é o comprometimento com o incentivo à adoção de formas mais sustentáveis de transporte e, ao mesmo tempo, com a criação de medidas que reduzam os acidentes de trânsito e permitam o direcionamento para a Saúde, Educação e Segurança de grande parte dos quase R$ 50 bilhões gastos anualmente com a violência no trânsito.
Não se sabe ao certo como a sociedade brasileira se reorganizará para encarar o mundo pós-pandêmico, mas alguns comportamentos criados a partir do isolamento social dão pistas de como deve ser o ‘novo normal’ no trânsito brasileiro. O crescimento do comércio virtual e o aumento significativo dos serviços de delivery evidenciam a relevância dos motofretistas e ciclistas e a necessidade em desenvolver medidas que garantam segurança e remuneração digna a essa classe profissional. Precisamos pensar o trânsito como algo que afeta a vida de toda a sociedade. É preciso um olhar cuidadoso para as motoristas de categorias profissionais, porque no trânsito todos são impactados.
Por outro lado, a retomada das atividades aumentará a movimentação nas ruas e, consequentemente, o número de acidentes. Na avaliação do médico, a adesão dos trabalhadores que não dependem exclusivamente do transporte público deve cair. Por questões de saúde, enquanto não houver uma vacinação em massa da população, quem tem transporte próprio vai preferir usá-lo, ao invés de adotar o transporte público ou por aplicativo devido ao maior risco de contaminação.
Em uma sociedade que planeja o seu futuro, o mundo pós-pandemia pode reapresentar a oportunidade de mudar velhas práticas e valorizar a qualidade de vida, a sustentabilidade e a solidariedade. Além do home office, que deve ser adotado por parte considerável das empresas, impactar os deslocamentos, a adesão de meios de transporte como a bicicleta, por exemplo, pode ser uma boa oportunidade para quem planeja não só adotar uma medida ecologicamente correta e economicamente viável. O incentivo a este modal ainda traz inúmeras vantagens para a saúde e o incremento na qualidade de vida. É preciso repensar o mundo em que vivemos e tornar o trânsito um ambiente mais seguro tanto para motofretistas, ciclistas, motoristas profissionais, pedestres, passageiros e motoristas comuns. Além de reduzirmos o número de jovens mortos e inválidos, teremos uma economia drástica com a redução dos gastos diretos e indiretos com acidentes. É a hora de interromper a aposentadoria precoce de uma massa que poderá certamente gerar riquezas se não for privada de suas plenas condições laborais por acidentes de trânsito. Investir em segurança só traz lucros.
*Alysson Coimbra de Souza Carvalho é coordenador da Mobilização dos Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito e diretor da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (AMMETRA)