Desde que chegou ao futebol europeu, em 2013, o craque Neymar acumulou um recorde amargo: foram 25 lesões que o tiraram de campo em 105 jogos. A última delas, nos ligamentos do tornozelo direito, foi tratada com cirurgia. Resultado, o atacante deve ficar fora dos campos por 4 meses. Seu caso não é o único. Mas, afinal, por que os craques de futebol sofrem tantas lesões?
O nutricionista esportivo Diogo Cirico, responsável técnico da Growth Supplements, explica que, nos últimos anos, quatro mudanças acentuaram esses riscos. “O aumento da rivalidade em campo, devido à alta pressão econômica, aumenta o vigor nas disputas pela bola; aumento do nível técnico e físico dos atletas, que aumenta a exigência e desgaste muscular; redução do período de descanso entre jogos e campeonatos; e recuperação inadequada de lesões”, enumera.
Estresse e imunidade
O desafio, diz o especialista, é a manutenção da integridade física dos jogadores ao longo da temporada e da carreira. “O futebol de elite movimenta muito dinheiro e, por isso, submete o profissional a uma alta exigência física e a uma forte pressão psicológica. Esses dois fatores podem enfraquecer a imunidade e aumentar o risco de doenças dos atletas”, afirma.
Nutrição pós-férias
A forma como o organismo dos jogadores é demandando muda muito durante a pré-temporada, a temporada e as férias. “Na pré-temporada há cargas de treino elevadíssimas para recuperar a condição técnica e física dos jogadores depois das férias. Muitos voltam acima do peso e são submetidos a uma restrição alimentar. O problema é que essa restrição pode reduzir a oferta de nutrientes para o músculo e a sua capacidade de recuperação total, deixando o atleta mais suscetível a lesões”, explica.
Mais jogos, menos descanso
Outro fator que amplifica o risco de lesão é o pouco tempo de descanso entre os treinos e jogos. “Quando se exercita muito, o corpo libera substâncias que provocam inflamações no músculo e favorecem o catabolismo e a resistência anabólica, ou seja, o músculo não consegue se renovar. O problema é que essas substâncias não afetam só os músculos, mas também os tendões, os ossos, os ligamentos. Por isso o descanso e uma nutrição adequada são fundamentais para atletas”, observa.
Arquitetura da dieta
Cirico explica que a alimentação dos jogadores deve ser montada com cuidado, pois tem o poder acelerar a recuperação muscular, ao otimizar o funcionamento do sistema imunológico. “Os jogadores têm que consumir a quantidade adequada de calorias (algo em torno de 30 a 35 calorias para cada quilo de peso) e 70% devem vir dos carboidratos. Mas durante o jogo há uma queda de até 90% das reservas energéticas, o glicogênio muscular, que demora até 72 horas para ser recomposto. Por isso é fundamental consumir a quantidade adequada de vitaminas, minerais, fibras, prebióticos e fitoquímicos que ajudam a recuperar o músculo”, comenta.
A alimentação também deve ser rica em vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina E, vitamina D, ferro, cálcio, zinco, fósforo, selênio, cobre, manganês e Ômega 3. “Esses nutrientes não estão em um único alimento, por isso é recomendável consumir pelo menos 7 porções de vegetais ao longo do dia, além de grãos, proteínas, leite e derivados; ter baixo consumo de industrializados; baixo consumo de gordura saturada e um estado de hidratação adequado”, enumera.
Cuidado com o álcool e processados
Uma dieta rica em alimentos industrializados, com maior quantidade de gordura trans e gordura saturada, aumenta a inflamação muscular e é extremamente prejudicial ao jogador. O mesmo acontece com o consumo de álcool, que reduz a resposta muscular e de adaptação aos treinos. “Isso também aumenta o risco de lesões”, pontua.
Recuperação e reincidência
Quando um jogador importante, como Neymar, se lesiona, há vários prejuízos para a equipe. Isso leva os clubes a buscarem formas mais rápidas de recuperação e tratamento. “Quando a recuperação não é feita de forma adequada, o risco da reincidência dessa lesão aumenta muito”, comenta Cirico.
Nessa fase o atleta tem que ajustar de forma precisa as calorias, reduzindo os carboidratos, aumentando as proteínas e os nutrientes com ação antioxidante e anti-inflamatória. “Quando se recupera de uma lesão, costuma ocorrer a redução da massa muscular, aumento da resposta inflamatória e um processo de mineralização óssea. O foco vai ser preservar a massa muscular e dar suporte para o sistema imune, com arroz, feijão, legumes, frutas, verduras, carne, ovos, leite e derivados”, enumera.
Cirico explica que a suplementação pode ser uma aliada, mas tem que ser estudada. “A creatina, por exemplo, ajuda a manter e a recuperar a massa muscular. Em relação às vitaminas, é preciso verificar se a alimentação dele é rica em fontes de vitamina C, magnésio, cobre, zinco e potássio, por exemplo. Só depois dessa análise é que deve ser introduzida uma suplementação”, completa.