No momento em que o estado de Minas Gerais enfrenta um aumento de 22% no índice de internação de motociclistas, conforme pesquisa divulgada pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), a chegada de um serviço de transporte de passageiros por motocicletas a cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte deve provocar um aumento ainda maior no número de feridos e de sinistros envolvendo motocicletas. “É preciso mudar o modelo de formação dos motociclistas, feito hoje em circuitos fechados pois o treinamento fica muito aquém da realidade das ruas. Colocar condutores sem treinamento adequado para transportar passageiros quando o sistema nacional de trânsito atravessa seu pior momento é um risco desnecessário”, comenta o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra) , Alysson Coimbra.
O especialista em segurança viária ressalta que, como em BH o serviço de mototáxi não é regulamentado pela Prefeitura, não há regras para garantir a segurança dos usuários. “Essa regulamentação é imprescindível para garantir um mínimo de segurança para os passageiros. Oferecer um serviço sem essa regulamentação é negligenciar dados que confirmam o aumento dos acidentes envolvendo motocicletas”, observa.
Coimbra, que é médico especializado em Medicina do Tráfego, alerta, ainda, para os riscos sanitários do serviço. “É no mínimo inoportuno o compartilhamento de capacetes quando o Brasil enfrenta uma pandemia e ainda se aproxima de um percentual satisfatório de vacinados para a redução da circulação do coronavírus”, diz.
Segundo dados de 2020 do IBGE, as motocicletas representam 22% da frota total de veículos no Brasil, mas os motociclistas são responsáveis por 54% das internações pelo SUS. “Investimentos em educação e fiscalização são imprescindíveis para salvar vidas. Sabemos que o momento econômico é complexo, mas não podemos ignorar os riscos associados a essa modalidade de transporte. A solução é investir em mobilidade segura e transporte público de qualidade, baratear o deslocamento aumentando o risco não é a melhor opção”, comenta Coimbra.
Acima da média
O estudo feito da Abramet mostrou que as internações de motociclistas em todo Brasil cresceram 14% nos sete primeiros meses de 2021, na comparação com o mesmo período de 2020. Em Minas Gerais, o aumento ficou acima da média nacional. Entre janeiro e julho de 2021, 7.486 motociclistas foram internados em decorrência de sinistros de trânsito no estado. Em 2020 foram 6.124 casos, uma alta de 22%.
As internações provocaram um gasto aos cofres públicos de quase R$ 108 milhões. Desde o início da pandemia, os brasileiros gastaram R$ 279 milhões para tratar motociclistas. “Todos esses sinistros poderiam ter sido evitados se tivéssemos políticas públicas permanentes para a segurança viária. É hora de cobrarmos a contrapartida da indústria para o financiamento de campanhas educativas. Todos os dias motociclistas ficam com algum tipo de invalidez pela gravidade dos ferimentos em sinistros de trânsito. Estamos criando um exército de mutilados e essa perda de força produtiva impactará em nosso crescimento econômico”, finaliza.