Em 10 dias, pelo menos 56 pessoas morreram em duas grandes tragédias envolvendo ônibus e caminhões em estradas de São Paulo e Minas Gerais. Na tarde desta sexta-feira, pelo menos 14 pessoas morreram e outras 26 ficaram feridas quando um ônibus despencou de uma altura de 15 metros após bater em um caminhão, no km 350 da BR-381, em João Monlevade (Minas Gerais).
No dia 25 de novembro, uma colisão entre caminhão e ônibus deixou 42 mortos na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho (SP-249), em Taguaí (SP). Esta foi a 7ª maior tragédia ocorrida em território nacional.
Os dois casos confirmam o perigo de conceder aos motoristas profissionais de veículos pesados o mesmo tratamento dispensado aos condutores comuns, como prevê a Nova Lei de Trânsito. “Esses veículos, por seu peso e dimensão, causam acidentes proporcionalmente mais graves. Apesar de serem apenas 15% da frota, incidentes envolvendo ônibus e caminhões são potenciamente mais letais, com uma média de seis mortes, na comparação com veículos leves”, afirma o coordenador da Mobilização Nacional dos Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito e diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (AMMETRA), Alysson Coimbra.
Cerca de 80% de condutores de veículos pesados são profissionais autônomos. “Para essa parcela, o momento da renovação da CNH é uma das raras oportunidades de avaliação com um profissional da saúde. E isso é importante porque alterações na saúde são responsáveis pela maior parte dos acidentes de trânsito no Brasil, conforme pesquisa feita pela ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego)”, completa Coimbra.
As entidades médicas trabalharam para evitar que a Nova Lei de Trânsito ampliasse o prazo de renovação da CNH para os motoristas profissionais justamente por conhecer os riscos imediatos a todo Sistema Nacional de Trânsito. “Nosso objetivo é salvar vidas. Por isso atuamos para garantir que as leis e normas tenham sempre como finalidade maior garantir a segurança viária. Em nenhum momento se pretende atribuir a nenhuma categoria todas as responsabilidades pelo atual trágico sistema nacional de trânsito, mas é inegável o risco assumido ao conceder a esses condutores o mesmo prazo de validade da CNH que o dos demais motoristas”, diz.
O especialista afirma que existem inúmeras outras formas de desburocratizar os motoristas profissionais sem interferir na segurança viária de todos, incluindo passageiros, pedestres e ciclistas.
Coimbra afirma que, por causa da natureza da sua ocupação e pelos riscos que os veículos maiores trazem, as avaliações dos motoristas profissionais têm que ser ainda mais regulares. “É uma categoria exposta a longas jornadas, baixa remuneração, privação de sono, alimentação irregular e falta de assistência médica. Se quisermos evitar que novas tragédias aconteçam, precisamos cuidar melhor da saúde dos nossos motoristas e tratar o trânsito como uma questão de saúde pública. Legislação, fiscalização e assistência médica são pilares da segurança viária de um país, e quando não estão em sintonia favorecem a ocorrência de tragédias como estas”, finaliza.