O Brasil celebra, neste 25 de julho, o Dia do Motorista sem motivos para comemorar. O país é o 4º colocado no ranking de mortes no trânsito e não há indícios de que essa realidade mudará tão cedo: nos três primeiros meses de 2020, o número total de indenizações por morte, invalidez e despesas médicas pagas pelo DPVAT aumentou 19% na comparação com o mesmo período de 2019. Segundo levantamento feito pela Seguradora Líder, entre janeiro e março de 2020, foram pagas 89.028 indenizações, sendo 59.726 por invalidez e 9.298 por morte.
Na avaliação de entidades especialistas em Medicina do Tráfego, o Brasil caminha para ver a insegurança no trânsito aumentar com a aprovação na Câmara do PL 3267, que flexibiliza regras do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Uma das medidas mais contestadas pelos especialistas é a que amplia para 10 anos o prazo para que os motoristas profissionais renovem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Esses exames são, muitas vezes, a única chance que esses motoristas têm de passar por uma avaliação médica. “Essa classe profissional está sujeita a precárias condições de trabalho e a uma carga muito grande de estresse, o que pode provocar inúmeros problemas de saúde, interferindo diretamente na segurança viária. A renovação dos exames a cada 5 anos é uma excelente forma de prevenir doenças que podem provocar graves acidentes de trânsito”, completa o médico Alysson Coimbra de Souza Carvalho, coordenador da Mobilização dos Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito e diretor da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (AMMETRA).
Garantir a permanência de mecanismos de monitoramento da saúde do motorista profissional é hoje um dos maiores desafios para reduzir as mortes no trânsito brasileiro. Estudos médicos publicados pela Revista da Saúde Pública, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, mostram que, no Brasil, a maioria dos motoristas profissionais permanece acordada por mais de 18 horas por dia, reduzindo seu estado de alerta e, portanto, aumentando as chances de acidente.
O relatório afirma que “para restringir e reduzir acidentes, mortes e lesões no trânsito, é fundamental uma legislação adequada, que vise à segurança do trabalhador e dos usuários das rodovias. A legislação deve, também, beneficiar o aspecto comercial, que se fortalece pela redução das perdas de produção e logística. Adicionalmente, são necessários programas de educação no trânsito e melhor fiscalização em relação ao tempo total de jornada de trabalho”.
É consenso na comunidade médica e científica que a ingestão de álcool ao dirigir, o consumo de medicamentos e drogas ilícitas, sonolência e privação de sono estão associados à alta incidência de acidentes. Ainda de acordo com o relatório, um estudo realizado com 19 países europeus constatou que aproximadamente 17% dos acidentes foram causados por sono ao volante. No Brasil, as condições de trabalho estressantes fazem com que 32% dos caminhoneiros descansem ou durmam menos que quatro horas por dia. “É indispensável um olhar mais atento para a saúde destes profissionais. Hoje sabemos que acidentes envolvendo veículos pesados têm uma alta letalidade e provocam uma média de seis mortes. Cuidar da saúde e melhorar as condições de trabalho dos caminhoneiros se traduz em maior segurança no trânsito para todos”, aponta Carvalho.