Quando se fala em assédio sexual, a primeira coisa que vem à mente é uma mulher acuada pelo chefe, mas o fato é que tanto homens quanto mulheres podem ser vítimas desse tipo de crime. Embora em número muito inferior, os homens também sofrem com o problema. E, na maior parte das vezes, não denunciam. O entrevistador forense e advogado especialista em assédio sexual André Costa conta que as denúncias raramente acontecem por conta da cultura machista enraizada na sociedade.
Costa explica que, em 10 anos de investigação sobre assédio sexual nas empresas, percebeu que a subnotificação acontece por causa do receio de ser ridicularizado e de ter sua masculinidade questionada. “Os homens que se dizem vítimas de assédio sexual demonstram muita vergonha. A visão de supremacia masculina ainda existe, por isso eles tendem a ter uma tolerância e uma resistência maior para relatar. O homem entende que se ele falar que está sofrendo um assédio sexual, as pessoas poderão pensar que ele não é viril e nem tem capacidade de gerenciar a situação”, conta.
O assédio contra homens ainda é tabu. “O mundo corporativo tende a ver que o que o homem diz em um contexto sexual não vale, não merece muito crédito, porque na visão do machismo, o homem é considerado supremo, está acima da mulher e tem o controle. Existem casos ainda que, quando está caracterizado e identificado que há uma perseguição da mulher em relação àquele funcionário, ocorrem questionamentos como se o homem que nega uma investida feminina necessariamente tenha orientação sexual diversa” diz.
Outro fator que leva à subnotificação do crime é a falta de credibilidade dos homens quando o assunto é assédio. “Por ter esse histórico de descredibilidade por artifícios maldosos usados por assediadores, quando um homem é vítima de assédio sexual e relata, a liderança tende a pensar que era um relacionamento que ele queria, porque se não quisesse, não tinha acontecido”, afirma.
Em quase 10 anos de carreira, André tratou pouquíssimos casos em que homens foram vítimas de assédio sexual. Ele conta que a dinâmica do crime é similar ao praticado contra mulheres, mas revela que possui características específicas. “A mulher tende a ser mais ousada e adotar condutas mais diretas porque sabe que está pautada, além de sua hierarquia e sua posição, na visão de que homens não sofrem assédio sexual”, explica. “Eu converso com pessoas que vivenciaram isso nas empresas e elas falam que jamais imaginaram que seria um caso de assédio sexual, por mais notório que parecesse, simplesmente porque a assediadora era uma mulher e a vítima um homem”, conta.
Por todo esse conjunto, a identificação do assédio exige uma investigação minuciosa. “A entrevista forense é fundamental para isso. As conversas são longas para detalhar como as investidas acontecem e materializar a conduta, porque, muitas vezes, a vítima acaba não vendo que isso está sendo verificado, vítimas da própria cultura machista, infelizmente, ainda presente em nossa sociedade”, afirma.