Os jovens são hoje um dos grupos mais afetados pela pandemia no Brasil. Estudo recente divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que os trabalhadores com idade entre 18 e 24 anos foram os mais prejudicados pelo desemprego recorde: mais de 4 milhões de jovens estão sem ocupação. A pesquisa mostra que o problema é maior para aqueles com Ensino Médio incompleto, enquanto a ocupação dos que têm Ensino Superior cresceu. “A evasão escolar, um fenômeno amplificado pela pandemia, seja pela necessidade de o jovem ajudar no orçamento doméstico, seja pela falta de acesso à internet para as aulas on-line, também cresceu e está jogando toda uma geração para abaixo da linha da pobreza”, afirma o psicólogo especializado em Crises e Emergências e especialista em RH, Alexandre Garrett.
Cerca de 4 milhões de estudantes brasileiros, com idade entre 6 e 34 anos, deixaram a escola, segundo pesquisa feita pelo Instituto Datafolha. A taxa de evasão escolar chega a 8,4%, atingindo principalmente os alunos de classes D e E. As consequências disso são vistas nas ruas das maiores cidades brasileiras. O número de crianças e adolescentes nos semáforos vendendo balas ou pedindo alguma ajuda financeira aumentou desde o ano passado. Apesar de não haver dados nacionais sobre o aumento do problema durante a pandemia, um levantamento feito pela Unicef em São Paulo mostrou um aumento de 26% do trabalho infantil entre as 52.744 famílias que receberam doações da organização.
Sem trabalho, sem escola e sem acesso a condições dignas de alimentação, moradia e saúde, essas crianças e adolescentes acabam nas ruas. “O jovem das classes menos favorecidas está sem perspectiva de futuro. Acuados pelo medo que a pandemia trouxe e pelo aumento da miséria, muitos se tornam alvos fáceis para a criminalidade. Se nada for feito, vamos perpetuar o ciclo do subemprego, da miséria e da violência. Precisamos agir rápido para trazer esses jovens de volta para a escola e investir em programas de qualificação profissional”, avalia o especialista.
Os danos da evasão escolar para a economia são gigantescos, diz Garrett. A pesquisa “Consequências da Violação do Direito à Educação”, elaborada pelo Insper em parceria com a Fundação Roberto Marinho, mostrou que cada jovem que sai da escola perde, em média, R$ 372 mil ao longo da sua vida. “Multiplique esse valor para cada criança e adolescente que teve que deixar a escola desde 2020 e teremos uma ideia do rombo que a evasão causa na nossa sociedade”, afirma o especialista em RH.
Profissionalização
Antes da pandemia, a educação pública e o desemprego entre os jovens já eram um problema para o País. Falta qualificação para essa parcela da população e o investimento em programas profissionalizantes não atende à demanda de um país com o tamanho do Brasil. “Dados oficiais mostram que 35 milhões de jovens entre 14 e 24 anos precisam ser inseridos em programas de aprendizagem profissional e no mercado de trabalho. Investir em educação não é só sinônimo de desenvolvimento social e econômico, é uma questão de sobrevivência”, diz.