Em 1890, com o detector automático de incêndio, a ciência deu o primeiro passo para criar o ‘olfato artificial’. Desde então, a tecnologia evoluiu muito: há dispositivos capazes de avisar quando alimentos começam a estragar; de detectar gases tóxicos, produtos químicos perigosos e até entorpecentes.
Mas, segundo o médico veterinário e perito criminal Luís Galvão Peres, do Projeto K9 da Polícia Técnico-Científica, a ciência ainda está muito longe de alcançar a eficiência dos cães farejadores. “Esses dispositivos que chamamos de ‘nariz eletrônico’ precisam ser regulados, calibrados e operados por pessoas. Os cães, além da sensibilidade olfativa muito maior, esses animais são como “sensores-autônomos”, fazem a varredura sozinhos e de forma muito mais rápida. Quando encontram a substância, sinalizam de forma clara. Isso poupa muito tempo em uma investigação”, explica o perito.
Luís Galvão Peres, o Lula, é um dos palestrantes no XXVI Congresso Nacional de Criminalística, evento que reúne, em Campinas, peritos criminais e cientistas forenses do mundo inteiro. Médico veterinário, o perito criminal da Polícia Técnico-Científica de São Paulo é pós-graduado em Cinotecnia Policial e especializado em Cinotecnia Forense, ou seja, no uso de cães no auxílio ao trabalho policial.
Durante o evento, ele vai falar sobre o Projeto K9 e as diferentes especialidades dos cães farejadores, que podem ser treinados para detectar odores de drogas, restos mortais, pessoas desaparecidas ou fugitivas, nas perícias de crimes e até doenças.
Companheiro
Peres vai ao Congresso acompanhado de Dexter, um Beagle de 2 anos, para demonstrar a importância dos cães nas investigações criminais. Dexter, que é especializado na localização de corpos humanos, tem sua própria conta no Instagram (@k9dexter_csi) para mostrar sua rotina de treinamentos. “O trabalho do cão farejador tem participação fundamental não só na elucidação de crimes, mas também em todo processo criminal. A utilização de cães nesse processo é valiosíssima e o trabalho do Projeto K9 merece ser replicado em todo Brasil, por isso esse é um dos temas que serão abordados no Congresso”, afirma Eduardo Becker, presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (SINPCRESP), organizador do Congresso.
Covid
Peres explica que há um mercado privado de cães farejadores treinados por empresas para as mais variadas finalidades: localizar drogas, explosivos e até parasitas de camas de hotel. Um dos filhotes de Dexter, Morgan, é um desses cães de serviço (K9) treinados por empresas privadas. Só que a sua especialidade é detectar pessoas com Covid.
Animais biodetectores, como Morgan, são usados em aeroportos e postos de fronteiras como barreira sanitária. “O cão dá o primeiro alerta, que precisa ser confirmado com o exame. Isso acelera a verificação de longas filas”, completa o perito.
Imbatíveis
Os cães têm 220 milhões de células olfativas e podem sentir odores a centenas de metros. Nenhum dispositivo chega perto desse desempenho. Nem o homem chega perto dessa marca: o olfato humano é formado por 5 milhões de células. “Os cães são rápidos e certeiros, e ainda nos trazem, de bônus, muito amor e carinho. A tecnologia ainda tenta se aproximar da capacidade humana de sentir odores. Quando chegar, ainda haverá um longo caminho pela frente até alcançar a capacidade canina de farejar. Se alcançar”, acredita Lula.
SERVIÇO
XXVI Congresso Nacional de Criminalística (CNC)
Palestra: Cinotecnia Forense: cães de auxílio ao trabalho policial (Projeto K9)
Data: 18/05/2022 – 14h30
Local: Expo D. Pedro – Parque D. Pedro Shopping – Campinas/SP
Endereço: Avenida Guilherme Campos, 500, Bloco II, Jardim Santa Genebra
Mais informações: https://app.virtualieventos.com.br/criminalistica2022