O número de atendimentos a ciclistas vítimas de acidentes de trânsito cresceu 72% desde 2015 em Belo Horizonte. Enquanto naquele ano essas ocorrências representavam 3,47% do total de atendimentos no Hospital João XXIII, em 2021 esse índice saltou para 5,97%. Até 31 de Julho deste ano, 249 ciclistas feridos foram atendidos no hospital, em um total de 4.164 vítimas de acidentes de trânsito.
Estudo feito com base em dados de atendimentos do João XXIII revelam o crescente desrespeito às regras de trânsito e falta de empatia nas relações sociais. “Nossos motoristas estão mais impacientes, irritados e imprudentes. Esse cenário foi amplificado durante a pandemia e o que vemos, infelizmente, é uma crescente inabilidade de convivência harmônica em espaços coletivos como o trânsito. Os mais vulneráveis, como pedestres e ciclistas, são os mais atingidos nessa crescente desvalorização da vida”, afirma o diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra.
Mais que isso, os acidentes envolvendo ciclistas estão mais graves. Estudo da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) registrou aumento de 30% nos acidentes graves com ciclistas nos primeiros cinco meses de 2021, na comparação com o mesmo período de 2020. Em Minas Gerais, esse aumento ficou acima da média nacional. Enquanto em 2020 foram computados 796 casos de traumas em ciclistas no estado, em 2021 o número saltou para 1102, um acréscimo de 38%.
Não foi à toa que o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) definiu como tema de 2021 a frase “No trânsito, sua responsabilidade salva vidas”. Todo final de ano o Conselho se reúne para definir a frase obrigatória em todas as peças publicitárias ligadas ao trânsito. “O slogan para 2021 é adequado ao momento atual em que vivemos. A segurança viária depende de todos nós. O brasileiro precisa entender que nossa ação influencia a vida de todos os integrantes do sistema nacional de trânsito. O respeito, a empatia e educação devem ser regra, não exceção”, afirma o diretor da Ammetra.
Avanço em BH
Em 2015 o Hospital João XXIII atendeu 426 ciclistas e 12.262 vítimas de sinistros de trânsito. Ao longo dos anos, o número de feridos foi reduzindo, mas o percentual de ciclistas vem crescendo proporcionalmente desde 2018. “Entre 2015 e 2017 os números vinham se mantendo estáveis, um percentual médio de 2,9%. A partir de 2018, aumentou a proporção de ciclistas entre as vítimas do trânsito, até atingir o índice de 5,97% em 2021. “Essa mudança no comportamento do brasileiro no trânsito é preocupante e reflete o trágico momento que atravessa o trânsito brasileiro, com afrouxamento de normas do CTB e uma tendência do governo federal em reduzir as fiscalizações por radares e isso afeta todos, e não somente os portadores de Carteira Nacional de Habilitação. Sair de casa e retornar em segurança já não é mais uma tarefa simples”, afirma o especialista em Medicina do Tráfego.
Na avaliação de Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito, outros índices que corroboram a avaliação desse atual perfil do motorista brasileiro são o aumento da letalidade dos acidentes e a prática cada vez mais comum de dirigir em alta velocidade. “Durante a pandemia, o movimento nas estradas em todo o país caiu cerca de 15%, mas o número de acidentes e mortes se manteve praticamente estável. O excesso de velocidade vem causando acidentes mais violentos e, segundo pesquisas, mantendo o número de mortes estável em várias cidades brasileiras”, avalia Coimbra.
Popularização
Segundo dados do setor, em 2020 as vendas de bicicletas cresceram, em média, 50% em comparação a 2019. “O aumento do uso da bicicleta notado durante a pandemia e o crescimento do número de atendimentos hospitalares revelam a necessidade urgente de desenvolver campanhas educativas voltadas ao público e principalmente aos motoristas. Ciclistas integram o elo mais vulnerável da implacável luta diária pelo deslocamento saudável em um trânsito cada vez mais agressivo e letal, motoristas precisam entender que são responsáveis pela segurança dos demais integrantes da via e precisam ser punidos rigorosamente ao infringir as regras de circulação”, afirma o especialista.