Um ambiente de trabalho tóxico, marcado por cobranças excessivas, metas inatingíveis e um volume de trabalho extenuante, amplifica a ocorrência de fraudes e de comportamentos indevidos, como assédio moral, gestão injuriosa e comportamentos ofensivos. O advogado e CEO da Shield Compliance, André Costa, explica que a exposição frequente a cobranças excessivas tem como principal efeito colateral a adoção de condutas desonestas para atingir as metas.
O profissional, que atua em investigações de fraudes corporativas e casos de assédio, explica que boa parte desses crimes tem como fator propulsor a busca por uma meta irreal. “Muitos dos clientes que atendo tiveram uma piora significativa de clima e até mesmo impactos na cultura da empresa, com movimentos intensos de saída de pessoas. A má gestão de metas e resultados certamente reduzirá a lealdade das pessoas que integram a empresa e afetará a capacidade dos colaboradores tomarem as melhores decisões para as companhias. Obviamente, não se trata de abolir metas, mas de ter uma análise crítica da viabilidade dos objetivos propostos”, comenta o autor do livro Comportamento Indevido no Trabalho.
Pela culatra
O advogado especialista em Compliance conta que a frequência de cobranças, o esforço envolvido e a constância da percepção de não atingimento da meta funcionam como um fator desmotivador. “Quando as pessoas têm a ideia cristalizada de que a meta é impossível de ser atingida, podem deixar de tentar buscar por uma solução, por um resultado melhor”, diz.
Essas cobranças excessivas provocam outro efeito colateral grave: o aumento de desentendimentos no trabalho. “Uma empresa nada mais é que uma sociedade confinada. O mundo do trabalho vem mudando muito rapidamente, muitos países já perceberam que investir em uma cultura organizacional saudável melhora a produtividade. Não há mais espaço para líderes assediadores e carrascos. Pelo contrário, essa conduta agressiva amplia os riscos jurídicos para as companhias”, comenta.
André Costa diz que é fundamental que as metas sejam fruto de um estudo sério e factível, com base na realidade do mercado e atual situação da própria organização. “Da mesma forma, a cobrança e acompanhamento de tais metas devem ser minuciosamente planejados e não simplesmente projetados sobre a cabeça das pessoas com uma míope divisão mensal ou qualquer outra métrica sem estudo e embasamento”, afirma.
O especialista destaca a necessidade de lembretes éticos conectados com as metas e resultados. “Só assim todos os envolvidos da organização terão, de maneira constante, o reforço de que o atingimento da meta não deve, sob hipótese alguma, trazer afronta aos princípios de boa governança e compliance organizacional”, completa.