A falta de policiais penais tem contribuído para aumentar a ação frequente dos chamados ‘ninjas’, recrutados por facções criminosas para arremessar celulares e drogas por cima das muralhas dos presídios paulistas. No último dia 18, no CPP Ataliba Nogueira, em Campinas, um homem invadiu a unidade destinada a presos do semiaberto. Ele cortou o alambrado e chegou a uma das alas, onde deixou uma sacola com 128 celulares, carregadores, chips e fones de ouvido.
A ação foi descoberta quando um dos policiais penais verificou as imagens gravadas das câmeras de segurança e apreendeu o material antes que chegasse aos detentos. Esta foi uma das maiores apreensões feita por policiais penais no sistema prisional.
Dois dias depois, na madrugada de segunda-feira (20/06), no CPP de Franco da Rocha, agentes de vigilância detiveram um grupo que tentava arremessar celulares por cima do cerca. Houve tiroteio e os criminosos fugiram, deixando para trás 58 celulares, carregadores, chips, além de uma escada, roupas e comida. Nenhum policial penal ficou ferido.
“Eles são chamados de ‘ninjas’ porque parecem ser treinados para isso. Escalam muralhas rapidamente e com poucos recursos, agem na madrugada e estão cada vez mais ousados, reagindo a tiros quando são descobertos”, revela Apólinário Vieira, diretor do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional (SIFUSPESP).
O sindicalista acredita que o crescimento desse tipo de ação é consequência direta da falta de servidores para fazer a segurança adequada das unidades. “O lado de dentro da cadeia conversa com o lado de fora. O preso sabe que há pouca gente cuidando da unidade, e passa as informações aos comparsas que estão na rua. Essas ações escolhem horários em que a vigilância é ainda menor. Há presídios que passam madrugadas inteiras sem nenhuma segurança nas guaritas, por exemplo. Estamos todos desprotegidos”, alerta Vieira.
Deficit funcional
O sindicato estima que, hoje, faltem 12 mil servidores no sistema prisional, mesmo já contando com a convocação de cerca de 1.900 aprovados em concurso. Em média, 350 servidores deixam a carreira todos os meses, por aposentadoria ou demissão. A estimativa é que, em 2022, o sistema prisional perca 4 mil funcionários.